Em 2002 foi lançado o livro e-Learning and the Science of Instruction, em uma época que a internet estava em plena expansão, possibilitando a explosão do e-Learning mundial, o livro ofereceu um apanhado de boas práticas para uma área que ainda engatinhava. Foi um alívio: agora havia o jeito certo e o jeito errado de fazer cursos online, e um dos conceitos que se formou neste período foi o de que “e-Learning com personagem é melhor”.
Exemplos de personagens comuns nos anos 2000
Mas, e 15 anos depois?
É normal que no início de cada mídia, ela copie a anterior, pois é mais confortável para a transição do público. Foi assim na transição do rádio para a TV. Então, quando o e-Learning surgiu, o papel do professor e até mesmo de colegas foi assumido por personagens EaD, para gerar pessoalidade e conexão com o conteúdo.
Porém, em uma década e meia o público amadureceu, já passou pela era dos blogs e agora está imerso nas redes sociais, smartphones e conteúdos instantâneos, onde apresentações de um “guia virtual” perderam a relevância para boa parte das pessoas. O público se acostumou a consumir conteúdo digital sem o intermédio de avatares, e o uso extensivo e descontextualizado desse tipo de personagem passou a comunicar desatualização ou infantilidade.
Curso online de marketing com linguagem visual atual
O reflexo direto desse amadurecimento no consumo são cursos online no ambiente corporativo hoje são feitos de forma muito mais limpa e direta, fornecendo informação sem longas introduções, e sempre que possível, em pequenas doses para rápido consumo.
A pessoalidade não sumiu, só deixou de ser ilustrada e mexer a boca.
É importante notar que isso não quer dizer que pessoalidade e aproximação com o aluno deixaram de ser importantes. Só a estratégia que mudou. Em vez de desenhar ou fotografar um personagem que acompanhará o aluno por todo o curso, isso agora é feito de forma mais sutil, focando mais em uma linguagem pessoal e informal, um conteúdo que conversa com o aluno, sem a necessidade de explicitar através do desenho de um balão de fala.
A voz humana também é uma forma de tornar o conteúdo mais pessoal. Já em 2002 se sabia da melhoria de retenção com o uso de áudio, especialmente para explicar informações visuais complexas como um diagrama. Único cuidado é que para conteúdos longos, com mais de 5 minutos, o áudio torna o consumo em média mais lento, menos motivante e menos efetivo. (Fonte).
Siri e Google Assistant
E, para entender a tendência mundial para os ambientes digitais, podemos analisar os casos da Siri e o Google Assistant, dois assistentes virtuais da Apple e Google, respectivamente. Eles falam, respondem perguntas, conversam com o usuário, fazem até piada, mas não tem figuras humanas. Nada de rosto, nem boquinha mexendo. Simplesmente voz, e um ícone para simbolizá-los. É essa a cara das mídias atuais, e seu curso online não deve ser diferente.
Mas então, não devo mais usar personagem?
Calma. O uso de personagem no curso todo perdeu sim o sentido, mas existem alguns usos válidos e bem interessantes:
Personagem aplicado à storytelling
Contar histórias: ou storytelling, que basicamente é narrar uma situação para apresentar contextos, ações e resultados. O envolvimento do aluno com uma história, e o entendimento que temos com esse tipo de estratégia é comprovadamente melhor do que em um conteúdo puramente teórico. E para isso, personagens fortalecem, personificam e tornam a história mais vívida e emocionalmente relevante pois estarão contextualizados.
Imagem de pessoas exemplificando um perfil
Figura humana: não é porque você não tem um personagem do decorrer do curso como um todo que haja qualquer empecilho de utilizar a uma pessoa para ilustrar uma situação, emoção, cargo ou personalidade. Estará em um contexto válido, e servirá a um propósito de conteúdo, e não para decoração ou “para ter personagem”.
Conclusão
O uso de personagem descontextualizado, durante todo o curso, fazendo papel de tutor ou colega é herança de um passado menos maduro de consumo de conteúdo digital em geral e especificamente de curso online. Hoje as estratégias de uso de personagem são muito mais específicas, priorizando relevância, como participantes em histórias ou exemplificando perfis.
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Personagens devem compor o acervo de recursos , sendo utilizados de acordo com a necessidade do material. Parabéns pelo artigo, muito assertivo.
Assino embaixo. É preciso acompanhar o perfil do público e não seguir fórmulas prontas e mágicas de desenvolvimento de material, ainda mais considerando o quando nosso relacionamento com as mídias mudou nos últimos anos.