No treinamento para as forças especiais da marinha americana, os Navy Seals, há um evento em que, por vários dias, os cadetes são expostos a severa privação de sono e intensos exercícios. O dia é composto de vários circuitos, em que cada time com seu líder, carregam o próprio barco em terra, correndo, e então em água, remando. É uma competição, e os últimos colocados têm menos tempo de descanso, além de serem especialmente pressionados pelos sargentos de treinamento.
Em uma série desses treinamentos, o barco amarelo estava sempre bem à frente, liderando cada corrida. Seu time estava altamente motivado, e trabalhavam juntos, se apoiando e cada um dando seu melhor. Já o barco azul, sempre bem atrás. O líder desse time sentia que tinha ficado com os piores membros. Eles eram reclamões, e ficavam jogando a culpa do fracasso de um para outro e, para piorar, tinham cada vez menos descanso, pois chegavam sempre atrasados.
O sargento que estava treinando os cadetes propôs então uma troca: o líder do barco amarelo, primeiro colocado, iria trocar de posto com o líder do time azul, o último. Finalmente o líder que estava perdendo sentiu que a sorte iria mudar, que finalmente teria um time vencedor nas mãos.
Nos próximos exercícios o time amarelo realmente performou melhor que a maioria dos demais, ficando em segundo lugar. O time se manteve motivado e operando bem em conjunto, apesar do novo líder. Já o primeiro lugar ficou, no restante dos dias de treinamento, para o time azul, que sob a nova liderança, encontrou motivação e sinergia para vencer.
Esta história real ilustra um dos princípios defendidos por Jocko Willink e Leif Babin, autores do livro Extreme Ownership: nada tem maior impacto na performance de um time do que seu líder.
Jocko e Leif foram comandantes de forças especiais durante guerra do Iraque, liderando times no meio de ambientes hostis, em situações de vida e morte. Agora, são consultores no setor privado norte americano, aconselhando CEOs e outros líderes de corporações, onde aplicam e notam os mesmos princípios de liderança.
Sabendo que os líderes são tão relevantes para a performance de nossas empresas, precisamos pensar neles como uma prioridade no momento de planejarmos treinamentos, afinal, treinamento corporativo tem por fim principal o aumento de performance. Investir em treinamento voltado para líderes é uma forma de atingir profundamente sua organização, pois ações que mirem sua liderança podem gerar um efeito de rede, dos líderes para os liderados, e destes para o restante.
Porém, treinar líderes é diferente de treinar outros colaboradores. A liderança é por si só uma posição que exige inclusive outro tipo de conteúdo, e é isso o que veremos a seguir.
Precisamos treinar líderes, mas treinar em quê?
As competências notadas em líderes de sucesso são de caráter comportamental, relacional e emocional, também conhecidas como softskills. Não por coincidência, essas habilidades são também as que faltam em líderes de todos os níveis. Por isso, são um espaço rico para melhoria de performance de líderes e, por consequência, de seus times.
Nas avaliações de desempenho que tenho acompanhado, as competências de softskills que mais mostram necessidade de melhoria são as de comunicação, em vários níveis e caráteres, delegação, motivação, foco, positividade, capacidade de influenciar times e pares, resiliência e afins. Isso é reforçado também pelo que a literatura afirma ser as características de líderes eficazes, afinal, a liderança em si é um composto dessas várias capacidades.
Porém, apesar da clara importância desse tipo de habilidade, noto que o foco dos treinamentos tem se movido ainda mais para produto e vendas, em alguns casos sendo os únicos temas que recebem investimento significativo. E, dessa forma, são ignorados os treinamentos de líderes nas próprias habilidades que definem liderança.
Em muitos casos, deixa-se de treinar líderes em softskills pela dificuldade de metrificar o impacto desse tipo de ação, já que a melhoria acontece no líder mas tem efeito em performance de seus times. Para este problema, indico que se busque métricas de satisfação e conhecimento nos líderes que foram público da ação de aprendizagem, mas para metrificar o resultado no negócio, utilize as métricas dos times.
Outro conceito que desmotiva algumas empresas em investir no treinamento de softskills é a tendência em acreditar que essas são habilidades inatas, que não podem ser aprendidas. Ou então, creem que só podem ser aprendidas pela prática. Porém, como líder e acompanhando dezenas de treinamentos para outros líderes, fica claro que a base para construção dessas habilidade é o conhecimento, seguido de oportunidades de colocá-lo em prática.
Na minha própria formação como líder os maiores saltos aconteceram quando adquiri técnicas e conceitos, especialmente os voltados à psicologia humana, e apliquei a mim mesmo e com meu time. Livros como Extreme Ownership (algo como “Protagonismo extremo”), citado no início, Os 7 hábitos de pessoas altamente eficazes, O poder do hábito, Never split the difference (“Nunca divida a diferença”, sobre negociação), só para citar alguns, mudaram meu modo de viver e liderar. O mesmo fizeram cursos como de Facilitação de Grupos, Apresentações e Oratória, e, mais recentemente, outros que fiz por tabela enquanto envolvido na criação da série de Cursos de Prateleira Class como Gestão do tempo, Gestão de mudança, Como Influenciar pessoas e Tomada de decisão.
Há muito valor em apresentar sua liderança a técnicas e novos conceitos necessários para melhor comunicar, priorizar, influenciar, negociar, mudar, enfim, liderar. É o primeiro passo para sua empresa ter líderes de alta performance.
Para encerrar
Há dois pontos principais para reforçar:
O primeiro é que líderes são as pessoas que mais influenciam o resultado de qualquer grupo, tanto para o bem como para o mal.
O segundo é que a capacidade de liderar é composta prioritariamente de softskills, que podem ser aprendidas de forma intelectual também.
A conclusão desses dois pontos é que, diferente do que vem acontecendo nos últimos anos, precisamos treinar mais softskills, e, seus líderes são o público alvo ideal, para que através deles você atinja toda sua empresa.
E você, tem treinado os líderes em sua empresa? Qual é sua experiência com treinamento de softskills? Comente e ficarei feliz em responder. Sucesso em seus treinamentos!
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