Quem trabalha com treinamento e desenvolvimento online está sempre ouvindo falar sobre SCORM (Sharable Content Object Reference Model ou modelo de referência de objeto de conteúdo compartilhável). Mas você sabe o que é SCORM, de fato? Apesar de ser um termo super difundido no mercado, nem sempre fica claro o conceito dessa tecnologia. Entender o SCORM vai te dar muito mais clareza na hora de buscar serviços de treinamento EaD, te ajudando a tomar as melhores decisões.
O que o SCORM NÃO é
A primeira coisa que precisamos fazer é esclarecer o que ele NÃO é. Um mal-entendido comum é acreditar que a tecnologia diz respeito a um formato de arquivo. A expressão “pacote SCORM” é usada com frequência para se referir ao arquivo que contém um curso no padrão SCORM. Muitas vezes, isso leva as pessoas a pensarem no SCORM da mesma forma que pensam em um “áudio MP3” ou em um “arquivo PDF”.
Não é o caso. Na verdade, um conteúdo SCORM é construído no formato .ZIP comum, aquele que usamos para agrupar vários arquivos em um único pacote e abrimos em programas como o WinRAR e o Filzip.
Para entender o que é SCORM, pense que se trata de um padrão, um conjunto de regras que estabelece como um conteúdo vai passar informações para uma plataforma LMS.
A importância de ter padrão
Até 2010, não existia um padrão de tomadas no Brasil, o que significa que cada empresa fabricante decidia por conta própria o que iria produzir. O mesmo valia para as companhias de produtos elétricos, que tinham que escolher o plugue que iriam usar.
Com o passar dos anos, acumularam-se diferentes modelos, com pino redondo ou chato, com ou sem pino de aterramento, com diversos formatos de plugue.
Sempre que alguém ia comprar um aparelho, contava com a chance de que o plugue não encaixasse na tomada de casa. Precisar de adaptador era a regra e não a exceção. A partir da padronização, as empresas de tomada e de plugues passaram a seguir o mesmo conjunto de regras.
Embora ainda estejamos sofrendo as consequências de anos sem padrão (você provavelmente ainda tem alguma tomada ou aparelho fora do padrão em casa), quem compra um aparelho hoje sabe que ele vai funcionar na nova tomada.
Nesse exemplo das tomadas, é como se o SCORM fosse a lista de regras que o fabricante tem que seguir para adequar seu produto. Meu plugue precisa ter três pinos, os pinos têm que ser redondos, o pino de aterramento precisa estar nessa posição, etc. São elas que permitem prever que qualquer plugue fabricado vai encaixar em qualquer tomada.
A origem do SCORM
A resposta mais simples para “o que é SCORM” é um conjunto de regras que permite saber que o treinamento produzido por uma empresa vai conseguir oferecer informações no sistema de gerenciamento ou plataforma LMS (Learning Management System) criada por outra organização, assim como no caso das tomadas. Na verdade, a própria situação que deu origem a essa tecnologia não é muito diferente daquela que mencionei ali em cima.
A ADL Initiative, ou Iniciativa ADL, é um programa do Departamento de Defesa do governo americano e foi a responsável pela criação da primeira versão do SCORM, em 2000. Um dos desafios que eles encontraram no final dos anos 90 foi fazer a transição dos cursos e treinamentos em CD-ROM para um modelo de capacitação que se comunicasse via internet.
Quando esse processo de mudança começou, era necessário programar o conteúdo de forma específica para funcionar em cada LMS. E quem quisesse trocar de plataforma LMS, muitas vezes, tinha que perder o conteúdo que havia comprado anteriormente.
Em 2001, foi criada uma nova versão do SCORM, o 1.2, que acabou sendo amplamente adotada no mercado de EaD. Essa foi a versão mais bem-sucedida do padrão SCORM e, dezoito anos depois, ainda é utilizada.
A tecnologia SCORM ao longo do tempo
Quem tem contato com tecnologia sabe que 18 anos é MUITO tempo para a área de computação. Dezoito anos atrás, o Windows XP ainda estava entrando no mercado, o sistema Android não existia e os computadores costumavam ter entrada para disquete.
Apesar disso, o SCORM 1.2 continua sendo um padrão amplamente utilizado para a criação de conteúdo para EaD. Diogo Réus, diretor de produto aqui da Mobiliza e responsável pela criação da nossa ferramenta de autoria, o Applique, falou sobre isso. “Do 1.2 para o SCORM 2004, não mudou muita coisa e a galera acabou não querendo fazer a migração. Estava todo mundo no 1.2, estava funcionando, então veio algo novo, não ganhavam nada convertendo, ficaram no 1.2”.
Novas versões do SCORM continuaram sendo lançadas até 2009, quando a ADL Initiative passou a se dedicar à criação do Experience API (xAPI), nomeado inicialmente de Tin Can API. Com sua primeira versão lançada em 2011, o xAPI veio com a promessa de oferecer uma solução muito mais completa para o monitoramento de aprendizagem e-Learning.
A geração de relatórios do SCORM fica limitada a alguns dados como o acesso do aluno a um curso, se este foi finalizado, e a nota obtida. O padrão xAPI permite gerar relatórios mais específicos porque ampliou muito o escopo do que pode ser mapeado. Entretanto, como explica Diogo, isso tornou mais complexo fazer a transição do SCORM para o xAPI. Para as empresas proprietárias de plataformas LMS, era mais fácil construir seguindo o padrão SCORM 1.2 ou 2004 do que investir no xAPI.
Oito anos se passaram desde o lançamento do xAPI, e já podemos dizer com segurança que o novo padrão falhou em alcançar a popularidade do seu antecessor.
Ok, mas e agora? Qual o futuro do SCORM?
Você já sabe o que é SCORM, que a tecnologia está no mercado há bastante tempo, permitindo a comunicação entre conteúdos e LMS, e que, com o amadurecimento da área de EaD, surgem novas demandas que exigem novas tecnologias. Também sabe que a tecnologia que seria a “sucessora natural” do SCORM “não pegou”.
E agora, em que direção o mercado parece estar caminhando? Segundo Diogo, os movimentos atuais das plataformas LMS foram no sentido de criar suas próprias tecnologias.
Nas palavras de Diogo, o que aconteceu foi que “Ou a empresa de Plataforma LMS criou um novo padrão do zero, ou fez novas regras a partir de uma base do SCORM. Neste último caso, o LMS Usa o SCORM, mas além de oferecer os relatórios padrões do SCORM, oferece informações a mais”.
O resultado é que, mesmo depois de tantos anos, o SCORM se coloca como a fundação para a criação dessas novas tecnologias. O ponto inicial de onde se parte para chegar a uma experiência de gestão de aprendizagem com relatórios mais detalhados.
Essa necessidade de informações mais específicas sobre a aprendizagem dos alunos é especialmente intensa no mercado corporativo. Isso porque as empresas investem em EaD para melhorar a performance da equipe e precisam de métricas para saber se os treinamentos estão dando retorno.
O desafio agora é encontrar caminhos para trabalhar com as tecnologias proprietárias das diferentes plataformas, já que cada uma delas tem suas especificidades.
Uma das soluções seria trabalhar o padrão dos conteúdos e da plataforma LMS com o mesmo fornecedor, para garantir que eles se comunicassem, mas, ao mesmo tempo, seguir o padrão SCORM para assegurar que aqueles treinamentos não fossem perdidos em uma futura migração de plataforma.
O SCORM segue tendo um papel essencial, justamente porque é ele que garante a preservação do mínimo necessário de informações. Mesmo que você migre entre plataformas muito distintas, se ambas atenderem ao padrão SCORM, os relatórios básicos vão continuar funcionando.
Aqui na Mobiliza, estamos de olho nisso e teremos novidades em breve para você! Siga as nossas redes sociais para saber o que estamos fazendo para entregar um monitoramento de aprendizagem mais completo.